sábado, 10 de janeiro de 2009

Meia hora de um repórter

Sábado, 21:50. Acabo dechegar da feira de artesanato com minha mulher. Como trabalhei a tarde inteira, ainda não tinha tido a oportunidade de tirar a maquiagem. Entro em casa com dois pastéis, que comeria vendo um filme, coloco sobre a prateleira. Tiro a maquiagem, mas o laquê ainda está no cabelo. Repórter anda mais montado do que drag queen... Me preparo para tomar banho, antes de ver um filme que aluguei na locadora, mas ainda não pudera ser assistido justamente por conta do plantão. Estava copiado no HD do computador. Vejo e deleto depois. Assim não é pirataria, me consolo. Antes do banho, para relaxar, sento no sofá e pego o jornal para ler as notícias internacionais. Pela manhã, antes do trabalho, só pude ler o noticiário local. Mal começo e eis que o telefone toca. É o celular coorporativo. No identificador, o nome do meu chefe. Atendo. Oito pessoas estão feitas reféns no bairro de cajazeiras. Uma equipe está sendo mobilizada para cobrir o fato. Antes mesmo de desligar, começo a me preparar para sair novamente. Escolho outro paletó - caso a coisa engrosse não é bom entrar ao vivo com a mesma cara com a qual apareci no jornal da noite dizendo que aconteceu uma tragédia. Afinal, que repórter é esse que nem toma banho? De fato, não dá tempo. Não tomo banho, mas preciso parecer que tomei. Desligo o telefone. Meu chefe vai acionar um motorista e um cinegrafista para saírem comigo. Refaço a maquiagem, pego o crachá da empresa, uma caneta, um bloco de notas. Troco de roupa. Na porta, enquanto me despeço de minha mulher, outra ligação. O motorista e o cinegrafista estão definidos. Desço o elevador anotando dados. Endereço do sequestro, celular do major que está à frente das negociações, telefones de casa e celulares dos outros profisionais da equipe envolvidos na operação. Anoto tudo até chegar no carro. Começo a dirigir ainda ao telefone. A SET está monstando uma blitz em frente a meu prédio para fiscalizar o trânsito e eu saio em alta valocidade falando ao celular. Pelo menos estou de cinto. Corro, ultrapasso alguns carros, em poucos minutos chego à metade do caminho. Meu celular toca outra vez. É meu chefe. Uma outra equipe, da nossa emissora, equipe vinculada ao programa mais popular, líder de audiência, o Bocão; uma equipe dele chegou antes ao local. Era a única coisa que os bandidos queriam. A presença de uma equipe de TV. Estavam com medo de ser mortos pela polícia numa invasão para salvar os reféns. Os bandidos se renderam. Tudo estava controlado e, mais importante, tudo estava filmado e pela nossa emissora. Meu chefe agradece. Pego o primeiro retorno. Volto calmo para casa. Chego, tiro a maquiagem de novo, tomo um banho e, ao invés de assistir ao filme, sento ao computador para reportar escrever essa história. É o tempo de minha mulher tomar banho...
Tudo pronto, agora sim, posso comer meu pastel, assistir ao meu filme e, é claro, depois, ler as notícias internacionais. Aliás, antes, vou ver o que tem de mais atual aqui mesmo na internet. Como estarão as coisas em Gaza? E será que alguém já anunciou o fim do sequestro daqui? Terei que deixar o filme para daqui a pouco...
Pasaram-se trinta minutos.

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