quinta-feira, 15 de julho de 2010

Segurança Pública???

Nesta quinta feira, me assustei com a faltra de segurança. E olha que, para me asustar, a coisa tem que ser feia... Já fui asaltado em serviço, fiquei 10 minutos sob a mira de pistolas fazendo matéria nos tempos idos da Band. Além disso, no dia a dia da Record, acompanho de perto os principais casos de violência. De perto mesmo. Entro nas casas das vítimas, converso com familiares diante de seus filhos, pais e irmãos asassinados injustamente. Por vezes atéé difícil manter a imparcialidade jornalística, que sobrevive por ser, em verdade, uma segunda natureza.
Contudo, foram dados que me assustaram. Isso mesmo, números. Tive a grande oportunidade de entrevistar o coordenador do Observatório da Segurança Pública, professor Costa Gomes. Ele me introduziu a um outro nível de realidade em termos de violência. Professor universtário, militar da reserva, Costa Gomes tem uma arma em casa por motivos funcionais. Garante que nunca saiu com ela. Diz mesmo ser contra a proliferação das armas que vem se registrando no Brasil desde que, em 2005, a população, via referendo, disse não ao desarmamento. No país, a compra de revólveres e pistolas por civis subiu cerca de 80%. Na Bahia, esse número triplicou. Passou de 1080 para mais de 3000. Mas ainda não foi isso que me assustou, mas sim o que está por trás dessa corrida pelas armas. De acordo com Costa Gomes, a escalada da violência é a grande responsável. Usando parâmetros nacionais, o professor revela que o número de presos no nosso estado está muito abaixo do registrado no restante do país. Enquanto a média nacional seria de algo em torno de 400 presos por cada 100 mil habitantes, a Bahia teria apenas 100. Ou seja, outros 300 estariam do lado de fora dos muros da prisão. Em Português muito simples:

De cada 4 bandidos na Bahia, três estão em liberdade!!!

Costa Gomes vai além. Revela que, de 223 mil crimes cometidos no Estado, apenas 1,3% geram a prisão dos responsáveis. Quando considerada a subnotificação de cerca de 70% - os crimes que acontecem mas não são registrados nas delegacias e, portanto, é como se não existesem oficialmente - o dado fica ainda mais assutador:

São 700 mil crimes cometidos e apenas cerca de 2 mil bandidos presos. Algo como 0,3% NADA.

Para o profesor, a escalada da violência não guarda, como se supõe com uma análise superficial (ou seria viciada?), relação direta com o número de armas. A ONU concorda com ele: entre os seis países com as populações mais armadas do mundo, estão Brasil e Estados Unidos. EUA, na liderança do ranking, com impressionantes 270 milhões de armas. Brasil em última posição com 15 milhões. Alívio? Bem... Quando o assunto é violência, as coisas mudam de figura. O Brasil, menos armado, é o mais violento dos 6. Os Estados Unidos, onde, pela conta, até as crianças devem andar armadas, ficam na última colocação.
Em tempos eleitorais, Costa Gomes prefere não fazer juízo de valor quanto a responsabilidades políticas pela escalada da violência na Bahia, mas ressalta que uma mudança só virá quando a gestão da seguraça pública for alterada. Como exemplo, ele revela a disparidade existente entre o efetivo policial nos diferentes bairros da capital baiana:

Na Barra e na Pituba, para cada 200 moradores, tem um policial. No Subúrbio, a relação é de um PM para cada 2500 (isso mesmo, dois mil e quinhentos) moradores.

É ou não é para ficar asustado?