quinta-feira, 8 de maio de 2008

Toró com gostinho de Garoa

Quilômetros de engarrafamento, ruas e mais ruas alagadas, com direito a carros flutuando e tudo ... A tempestade desta quarta feira, 08 de maio, em Salvador mostrou, da pior maneira, que estamos de fato nos tornando uma metrópole – de terceiro mundo, é claro. Fiz 50 quilômetros em quatro horas. Dez quilômetros por hora na marcha um. Maravilha das maravilhas. Me senti como da última vez que estive em São Paulo. Nosso toró teve gostinho de garoa. O que mais impressiona, tanto aqui quanto lá, é a conjunção de dois fatores: a recorrência dos problemas ao lado da ausência de uma sistemática para resolvê-los. Às favas com o nível de investimento, o dólar baixo, a autosuficiência energética, estamos é no terceiro mundo. Ah... e às favas com o politicamente correto também. É terceiro mundo meeesmo. É rezar para a chuva passar. Aqui não chegamos à civilização. É conforme Deus quer.

quarta-feira, 7 de maio de 2008

Vaidade, poder, impunidade

Esses dias ouvi no rádio – emissão nacional – um apresentador, âncora de TV também, declarar-se contra o voto. Até aí tudo bem ... É como na marcha da maconha: opinião pode, só não pode acender o baseado. Mas o preclaro colega queria mais era pôr fogo na babilônia. “Não voto, nem sei onde está meu título e não dá nada pra mim.”

Boniiiiito....

E o estado democrático de direito? Só vale para a terceira pessoa – o ele e nunca o eu? E quando o mesmo apresentador, ora em pele de anarcopunk, decide trajar-se qual vestal da honradez para caçar bruxas em figuras (para lá de merecedoras, aliás) como os Nardoni ou o Paulinho da Força? O mesmo pau que dá em Chico dá em Francisco. Se o argumento para colocar Nardonis e Paulinhos na cruz é a lei, que ela doa dura também sobre o algoz que faz cantar o chicote. Atire pedra quem é puro, já disse o dono da cruz original e meritória. Mais tarde, na mesma cadeia nacional (por cadeia, leia-se rede de notícias e não local próprio para restingir a liberdade dos inimigos da lei) ... pois bem, na mesma rádio um outro Big Shot ficava indignado porque a polícia federal precisou de autorização para entrar na reserva indígena Raposa Serra do Sol. Queria ele que, ao arrepio da carta magna, a polícia entrasse onde bem quisesse? “Para que autorização legal? É ou não é polícia?” bradava o colega esquecido que a mesma constituição de 88 que salvaguarda o direito do índio garante a liberdade de imprensa para que ele e outros convivas possam grunhir o que bem entendem sem que a polícia prenda ou arrebente, como já foi apregoado outrora. Hoje, graças à lei, é assim. Quem tem boca fala o que quer – menos na marcha da maconha ou na Raposa Serra do Sol. Pelo menos não no mundo dos nossos gate-keepers, guardas do portal, senhores do que entra ou sai da mente do populacho.

Ronaldinho então ... coitado!

Antes tivesse feito como o colega Edmundo animal que, tempos idos, passou com o carro por cima de meio mundo de gente. Ia bêbado, violando a lei, além do corpo e da vida alheios. Ronaldo não violou corpo nenhum, foram quatro horas no motel com tudo consensual e a vida era dele.

Esses caras... Até parece que querem matar alguém. É o que acontece em reinos onde imperam vaidade, poder e impunidade. Mundos como o do Psicopata Americano. Clássico dos anos 90, esse cult, talvez o melhor no estilo rodado nos Estados Unidos naquela década, conta a história de um poderoso executivo, vivido por Cristian Bale. A loucura do poder, da competição sobretudo, levam o rapaz – a vaidade encarnada – a migrar sua psicose social: de predador corporativo a tiranossauro físico, passando a metralhar, triturar, cortar pessoas em banda no machado. No final, mamãe vem e limpa tudo. Vaidade, poder, impunidade. Ingredientes que fazem psicopatas predadores, como o do filme, o Austríaco Fritzl, que enclausurou e estuprou a própria filha por 24 anos seguidos num porão, ou – porque não – os jornalistas poderosos (e ricos, vale lembrar) de hoje em dia.