sábado, 31 de janeiro de 2009

In Vino Veritas. Americanos, bahh.... saudades de mestre Mencken

Henry Louis Mencken foi um dos maiores jornalistas da história desta laboriosa profissão. Viveu até os anos 50 (56, mais precisamente) e criticou política, arte, sobretudo cultura,no sentido socialmente mais amplo do termo. Foi uma glasnost, nas palavras de Paulo Francis - o nosso Mencken Brasileiro. Mencken era um mestre em radiografar sistemas, coisas, pessoase povos, mais que tudo, ainda bem, o povo americano.

Bom, vamosao vinho, ao néctar, à seiva das linhas de hoje, vez que, como já consagraram os antigos, In Vino Veritas.

Ao longo de décadas, durante as quais acompanhou o que há de mais imbecil nos Estados Unidos - seus presidentes -, Mencken pôde, como poucos, notar a fragilidade coginitiva e moral desta tíbia raça que até hoje nos domina - nós, não os Brasileiros, mas o mundo como um todo. Em alguns de seus pensamentos, essa noção fica clara.
Pensemos: como é comum hoje, para nós, terráqueos do século XXI, consumidores de cinema e seriados americanos, do Amercan-Way-Of-Life, que em tudo nos circunda - venha de Nova Iorque ou do Canindé -, como é mesmo prosaico vermos, como realidade eterna, pétrea, basal, o fato de ser in, cult, chique, un act de noblesse même, o fato de se beber vinho - tinto de preferência - seco, inevitavelmente. Na Europa é costume milenar. Nos Estados Unidos nem poderia sê-lo, pois é nação de séculos, como a nossa. Pois bem. Revela Mencken, entretanto, que o é de poucas décadas e nos mostra onde e porque está a raiz do beber vinho como "forma de ser mais" para os americanos. E, como sempre, o faz com classe e em em uma frase, onde analisa a lei seca imposta naquele basto e vasto país, nos idos de 30 e tantos. Ei-la cá:

"Antes da proibição, o povo americano bebia pouquíssimo vinho".

E depois, ainda se acha quem fale que os vinhos californianos, sempre novos, de frágil bouquet e, acima de tudo, sem personalidade, são, segundo tais cultores, melhores que alguns franceses. Eles que sonhem em se comparar aos Argentinos. Não. Uruaios e olhe lá. Isso, se não levarmos em conta a uva Tanat. Pois aí, até dos Uruguaios eles perdem...

sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Claque

Vaze, case, cace.
Eu preciso de uma gaze
Pra estancar hemorragia.
Homorragia de vida,

Sangue interno de ferida,
Lá da parte escondida,
das entranhas de uma lida,
De um labor que fenecia.

Rasgue, Trague, largue.
Deixe que as coisas vêm.
E se não como convém,

Ao menos de alguma maneira...
No mais é só brincadeira,
Baque, ataque, claque.

Gabriel Pinheiro, Salvador, Bahia.
Aos 30 de janeiro de 2009, 22:05 minutos.

quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

É o filhinho do papai, é?

Conta-se de um comerciante baiano, ou, pelo menos, contou-se a mim hoje, que este tal comerciante, de prenome Afrísio, estava numa reunião de negócios quando o seu telefone tocou. Numa dessas cenas, cada vez mais comuns, mas nem por isso menos constrangedoras, o aparelho emitiu um desses ruídos lamentáveis que vem sendo usados, como daqui se depreende, indiscriminadamente. E eis que vem o som: "É o filhinho de papai, é?"
O comerciante, de pronto, interrompe a reunião e atende.
"É o ministro, é o ministro", fala, referindo-se assim à sua cria.

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Será que o bicho pegou mesmo?

Vejam essa notícia que saiu hoje na Folha Online e pensem emque estágio evolutivo se encontra a nossa humanidade:

"Ela foi levada por um grupo de vigilantes de uma loja de carros importados. Segundo eles, aquela cabra seria, na verdade, um ladrão armado que usou magia negra para se transformar em bicho para escapar da prisão, depois de ter tentado roubar o comércio.
"O grupo de vigilantes veio denunciar que enquanto eles estavam trabalhando, viram alguns criminosos tentando roubar um carro com violência. Eles perseguiram a dupla, mas um deles escapou, enquanto o outro teria virado uma cabra", disse o policial Tunde Mohammed, de Kwara, à agência Reuters.
Segundo a polícia local, apesar de não conseguirem confirmar que o assaltante tenha usado de algum tipo de mágica para não ser preso, a cabra continua detida.
"Nós não podemos basear a investigação em algo místico. É algo que precisa ser provado cientificamente", disse o policial."

Enfim, o bicho continua preso, apesar das razoabilidade científica proposta pelo policial. A questão é: até onde vai uma má polícia investigativa para justificar a sua incapacidade de encontrar um suspeito e ao mesmo tempo atender às demandas de uma sociedade inculta e desejosa de punição?
Se há magia, isso sim é que tem de ser provado. De qualquer sorte, bom para o animal, que permanece na cadeia, com comida de graça e, pela fome de justiça de um povo, salva da fome física, que, sem dúvida, mais hora menos hora, a faria repousar morta, jazendo num prato, numa tina, ou mesmo nas mãos de alguns. Se não saciando, pelo menos enganando o apetite desse pobre povo com a proteína que leva na carne. Seria um fim mais digno do que essa lamentável prisão. Não para o animal, talvez, mas, sem dúvida, para o povo pobre que, ainda em pequena quantidade, comeria alguma coisa e tentaria matar a sua fome secular. Parece, no entanto, que a gana por justiça é maior...
Que seja, pois bem.

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Loucura, susto, beleza e paixão.

A Loucura é bela. O susto é apaixonante. Pelo menos deixam o humano mais puro.
Ainda estou lendo O Idiota de Dostoievski. Mas não só isso. Comecei a suprir parte da minha vasta ignorância literária. Edgar Allan Poe. H. P. Lovecraft. Gostei mais do que li do primeiro. O gato preto. Conto de horror interessante. Li a Tumba de Lovecraft. Não foi a mesma coisa. Mas há de se respeitar quem tem uma legião tão grande de fãs e adoradores. Gente que acredita até nas obras fictícias que o autor criou para ilustrar passagens de suas obras.
Já Poe é de fato muito bom.
Assusta.
Os crimes da rua Morgue, policial aterrorizante, com aquele Orangotango assassino... O vilão era só um animal acuado. Um animal que teme ser hostilizado por um chicote, brinca de barbeiro com uma velhinha e sua filha. Mata as duas e, quando vê o dono, temeroso, tenta esconder sua bagunça. É um animal louco. Mas não da loucura bela, do susto apaixonante.
É realmente interessante. Sobretudo pela linha argumentativa que distingue razão de análise.
Escrevo matérias. Leio matérias.
Li uma sobre Blocos afro. O autor escreveu blocos afros. Neologismos da terinha. Inventam letras e histórias. Alvejaram meu pai com um petardo dia desses. Pulhas.
Sofro. Fisica e mentalmente. Mas quem não?
Queria desvendar a minha mente. Mas minto se digo o que sinto, já nos advertira Pessoa.
Ainda não acabei com Dostoievski. Me doeu saber que ele era epiléptico. Às mazelas mentais me solidarizo com facilidade. É o lado mais humano do homem. O que sofre mentalmente. Pois que este teme deixar de ser homem - ou sê-lo menos. É um lado bonito, frágil, doce.
As pessoas assustadas ficam muito bonitas. Uma beleza de alma. Não as que estão assustadas com outros, mas asque têm medo de si. Há uma beleza nisso.
Será que é por isso que tanta gente assusta os outros? tentando achar essa beleza?
Tristes parvos.
Não se encontra esta beleza de tal modo. Buscam álcool no lgar de água, como se fossem iguais, apenas por serem ambos líquidos e transparentes.
O susto frágil, como o que nasce de uma mazela mental, é um revelador de uma pureza indelevelmente individual.
O susto provocado é uma grosseria, uma agressão. O avesso da beleza. É Sadismo. E Sade é um monstro estúpido. Apenas talentoso, mas nem por isso menos monstro ou menos estúpido.
Gosto ainda mais de Dostoievski. Ele é o Idiota. O príncipe Míshkin. E eu não sabia.
Descobri que tenho um parente, alguém próximo, que é epiléptico. Ou foi. É uma pessoa com seus defeitos. Mas me tornei a ele mais simpático quando soube disso.
Tenho uma afeição pela loucura e uma queda por hospitais e enfermarias.

sábado, 17 de janeiro de 2009

Ainda sem computador

Da casa de minha mãe.
Sinto-me como no tempo em que não havia celular. Para se comunicar com alguém era preciso ter um telefone fixo ou usar um orelhão. Hoje, sem internet em casa, as coisas são um pouco parecidas. O acesso sem fio, de qualquer parte, ainda é utópico, mas já começa a existir, até em recantos primitivis como Salvador - quando isso acontecer, ficar sem internet vai ser um caos ainda maior. Mas mesmo hoje, quando isso não é real, não ter acesso à rede de casa é algo inconcebível. Só me dei conta disso com um computador queimado há alguns dias. Nem as aulas de André Lemos, as leituras de Pierre Levy - e mesmo as suas aulas presenciais lá na Facom. Nada disso me foi suficiente para dar uma idéia clara do significado pleno do termo acessibilidade. Realmente, o acesso a uma parte do mundo me foi fechada. É como se uma biblioteca imensa me fosse negada o tempo inteiro. Não é mais possível sanar dúvidas bobas que surgem nas nossas mentes a todo momento na velocidade de um clique - ou alguns, para ser mais realista. Não é mais possível ver o significado daquela palavra... a letra inteira daquela música... a versão verdadeira daquela história ... É lamentável ter que admitir uma tamanha dependência tecnológica - ou não - como diria Caetano. Para continuar parafraseando, nem tão apocalíptico nem tão integrado, citando Eco. É uma tecnologia adorável e, sem dúvida, se reclamo aqui não é dela que o faço, mas da sua falta.
Nesses dias tive tanto queescrever. O piloto herói que, saindo de La Guardia, em Nova Iorque, teve o seu avião, com 155 pessoas a bordo, abalroado por um pássaro, turbinas em fogo. Meia volta, mas não daria tempo. O avião cairia na cidade, antes de chegar ao Aeroporto. Eis que o piloto alinha com o Rio e faz um pouso perfeito nas águas geladas. Ninguém se machucou. Quatro ou cinco pessoas foram internadas, mas por hipotermia. Enfim, um herói.
Tinha mais para falar. A posse de Obama. A ONU e sua insignificante atuação - pelo menos até agora, no conflito entre Israelenses e Palestinos. A relação entre Obama e o conflito. Ele promete ajuda... a Israel... Esperto, não?
Enfim. Veremos como fica o mundo. Por enquanto, o meu está limitado. Sem internet, escrevo assim, quando posso, da casa de um amigo ou de um parente. Do trabalho é que não dá. Me sinto mal. Acho errado. Bobagem? Talvez. Mas eu não gosto. E Lan House... aí, nem pensar. É como pagar por um copo de água.
Sem mais, até...

quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

Computador queimado ...

Meu computador queimou. Escrevo d'alhures. Serei breve. Creio retornar amanhã à normalidade. Por ora, até.
Viver sem computador... um estranho dilema para os nossos dias.

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

O menino de 15 anos

Já nem lembro o nome dele. Estava na faixa de Gaza. 27 ou 28 dias de ofensiva Israelense. Ao medo costumeiro, próprio dos que lá vivem, devia ir com ele um pavor maior, daqueles que só conhecem os que já estiveram em uma guerra na qual são o alvo mais fraco.
Estava em casa com parentes. Vários. Eis que dos céus surgem helicópteros. A farda do exército Israelense apavora. A brutalidade dos soldados também. Os homens, armados, entram em várias casas da rua, espancam seus moradores e os retiram à força, mandando que sigam com eles a um local determinado.Um prédio. Sem opção, eles obedecem. 110 palestinos errantes. 50 deles, crianças. Um bebê de apenas 5 meses vai junto, carregado pela mãe apavorada, mais com a cria que com si mesma.
Na casa, lhes é ordenado que de lá não se retirem, salvo por ordem Israelense contrária. Sem mais que fazer, ficam lá. Passam-se quase 24 horas. Sem roupas, comida e - pior que tudo isso - sem saber o que será deles. O porquê da espera. Sem saber nada. Quase 24 horas e a resposta chega em forma de bombardeio. Não em frente ou ao lado. Mas sobre eles. Foram levados para um alvo. 110 civis, sem qualquer ligação com Hamas ou qualquer outro grupo, militar ou terrorista. 110 civis. 50 crianças. Um bebê.
Quase todos morreram. Os sobreviventes, estropiados, com estilhaços de aço, concreto pelo corpo, andaram dois quilômetros até chegar a um hospital. O bebezinho sobreviveu. Foi mais uma vez carregado. Agora ferido. Não resistiu e morreu. Sem saber o que acontecia. Sem entender o terror. Que haja um céu para ele. O menino de 15 anos sobreviveu. Esta história de covardia jamais sairá damemória dele. Nem tampouco da minha.

domingo, 11 de janeiro de 2009

Cisto

Cristo,
Por que existo?
Cisto.
Misto de quisto e visto,
insisto,
invisto,
assisto...
Cristo!

Não sei por que não grito...
Fujo do atrito.
Mito!
Fica dito por não dito.
E, se ninguém dá um pito,
No fim, á apenas isto.

Gabriel Pinheiro, 1:17 da manhã do dia 12 de janeiro do ano de 2009 do Nosso Senhor Jesus Cristo.

Onde está a SET?

Começa o ano. Praias cheias. Sol. Gente bebendo. Maravilha... Muita gente, no entanto, bebe e dirige. Um trabalho para a SET. Mas onde estão os agentes? Hoje, de plantão, fui pautado para cobrir as blitzen. Percorri 150 quilômetros. Toda a orla, ida e volta, toda a paralela, ida e volta... e nada.
Enfim....
C´est la vie.

sábado, 10 de janeiro de 2009

Meia hora de um repórter

Sábado, 21:50. Acabo dechegar da feira de artesanato com minha mulher. Como trabalhei a tarde inteira, ainda não tinha tido a oportunidade de tirar a maquiagem. Entro em casa com dois pastéis, que comeria vendo um filme, coloco sobre a prateleira. Tiro a maquiagem, mas o laquê ainda está no cabelo. Repórter anda mais montado do que drag queen... Me preparo para tomar banho, antes de ver um filme que aluguei na locadora, mas ainda não pudera ser assistido justamente por conta do plantão. Estava copiado no HD do computador. Vejo e deleto depois. Assim não é pirataria, me consolo. Antes do banho, para relaxar, sento no sofá e pego o jornal para ler as notícias internacionais. Pela manhã, antes do trabalho, só pude ler o noticiário local. Mal começo e eis que o telefone toca. É o celular coorporativo. No identificador, o nome do meu chefe. Atendo. Oito pessoas estão feitas reféns no bairro de cajazeiras. Uma equipe está sendo mobilizada para cobrir o fato. Antes mesmo de desligar, começo a me preparar para sair novamente. Escolho outro paletó - caso a coisa engrosse não é bom entrar ao vivo com a mesma cara com a qual apareci no jornal da noite dizendo que aconteceu uma tragédia. Afinal, que repórter é esse que nem toma banho? De fato, não dá tempo. Não tomo banho, mas preciso parecer que tomei. Desligo o telefone. Meu chefe vai acionar um motorista e um cinegrafista para saírem comigo. Refaço a maquiagem, pego o crachá da empresa, uma caneta, um bloco de notas. Troco de roupa. Na porta, enquanto me despeço de minha mulher, outra ligação. O motorista e o cinegrafista estão definidos. Desço o elevador anotando dados. Endereço do sequestro, celular do major que está à frente das negociações, telefones de casa e celulares dos outros profisionais da equipe envolvidos na operação. Anoto tudo até chegar no carro. Começo a dirigir ainda ao telefone. A SET está monstando uma blitz em frente a meu prédio para fiscalizar o trânsito e eu saio em alta valocidade falando ao celular. Pelo menos estou de cinto. Corro, ultrapasso alguns carros, em poucos minutos chego à metade do caminho. Meu celular toca outra vez. É meu chefe. Uma outra equipe, da nossa emissora, equipe vinculada ao programa mais popular, líder de audiência, o Bocão; uma equipe dele chegou antes ao local. Era a única coisa que os bandidos queriam. A presença de uma equipe de TV. Estavam com medo de ser mortos pela polícia numa invasão para salvar os reféns. Os bandidos se renderam. Tudo estava controlado e, mais importante, tudo estava filmado e pela nossa emissora. Meu chefe agradece. Pego o primeiro retorno. Volto calmo para casa. Chego, tiro a maquiagem de novo, tomo um banho e, ao invés de assistir ao filme, sento ao computador para reportar escrever essa história. É o tempo de minha mulher tomar banho...
Tudo pronto, agora sim, posso comer meu pastel, assistir ao meu filme e, é claro, depois, ler as notícias internacionais. Aliás, antes, vou ver o que tem de mais atual aqui mesmo na internet. Como estarão as coisas em Gaza? E será que alguém já anunciou o fim do sequestro daqui? Terei que deixar o filme para daqui a pouco...
Pasaram-se trinta minutos.

150 anos de sobe e desce sem trocar

Um motor de 150 anos. Funcionando todos os dias fazendo dezenas de viagens. Indo e vindo sem parar. Sempre cheio. Se fosse um ônibus, estaria aos pedaços. Mas, pelo menos, seria apenas um ônibus. Importante, talvez, pela antiguidade (escrevo sem trema pois ele sumiu da nosa língua com a reforma, lembrem), mas, ainda assim, apenas um ônibus.
Agora, se nós estamos falando de um elevador, a coisa muda de figura. Se ele é um ponto turístico então... Cartão postal de Salvador, o Elevador Lacerda tem um motor de 150 anos de idade. Sua última grande reforma foi em 1989. Na noite desta sexta-feira, uma das quatro cabines do elevador parou. Mais de 10 pessoas passaram minutos lá dentro, sem ar condicionado (que está quebrado). Suavam, muitos tiravam a camisa, mas ainda encontravam tempo para uma piada entre a agonia da espera pelo socorro. Vi a cena no celular de um dos passageiros que levou o material para a TV Record, onde trabalho. Os funcionários da prefeitura, que socorreram o povo depois de cerca de 10 minutos de clausura, fizeram um resgate, no mínimo, arriscado. alinhou um dos outros três elevadores com o elevador que parou e, por uma portinha, fez passarem os mais corajosos tripulantes. A maioria teve medo - uma queda entre os dois elevadores poderia facilmente levar à morte. Estes últimos preferiram esperar o elevador voltar a se mover normalmente para escapar. Perderam mais umas dezenas de minutos. Eu faria o mesmo. Onde estaria a explicação para esta parada. Tudo que usa demais cansa? Teria o elevador dado um tempo por conta do excesso de sobe e desce, cesquicentenário, afinal? Não... pelo menos, segundo a prefeitura. Questionada sobre a parada do elevador eles explicaram, dizendo que o problema é que aquela cabine, exatamente aquela, tinha passado por uma manutenção recentemente. Teria travado por isso.´É que o eevador ainda estaria se ajustando a uma peça nova... Bem que dizem que cachorro velho não aprende truque. Agora, à parte tudo isso, a prefeitura garantiu que, ainda nesta gestão, vai proceder a uma reforma completa no elevador, trocando cabos, cabines e (quem diria), até o vivido - e, por que não dizer, rodado motor.
É um caso a se pensar... Se uma manutençâo é capaz de irritar o elevador, acostumado a seus maneirismos de velho ranzinza e orgulhoso, empoado talvez pela fama que ostenta ao longo deste século e meio de vida, que se pode imaginar da reação do venerável senhor ante uma mudança total?
Como diz um conhecido diretor de vídeo daqui: vai lá que é promessa?
Sem mais.

Retratos de Salvador

Tráfico, contravenção, improbidade admnistrativa e um adeus.
Que final de semana para a capital baiana. Ontém, oito dias depois da posse, abandonou ocargo de presidente da câmara municipal de Salvador o vereador Alfredo Mangueira. Simpatizante, pelo menos, do jogo do bicho, o vereador não resistiu nem a duas semanas na vitrine - e olha que estávamos em períodos de recesso para todos (não leia-se aqui Paratodos, ok?). Ano novo, festas, políticos sem trabalhar e, sobretudo, redações em esquema de plantão, leia-se, com menos jornalistas na ativa. Menos gente para falar dele, de suas práticas e, por consequência, do bicho. Antesque começasse a semana que vem, quando as coisas de fato começam, o vereador saiu de trás da vitrine -que afinal de contas é toda feita de vidro - quebra fácil sob a ação de pedras.
E que venha 2009...
Mas Salvador não é apenas contravenção. Tem o metrô também - ou pelo menos os trens. Eles estão chegando. Parece boa notícia? Mas não é... Quando estarão nos trilhos é coisa que só o Senhor sabe o dia e a hora, sem que a ninguém, dentre os mortais, tal segredo tenha sido revelado. Nem mesmo imortais como Prometeu, com medo que sobre suas duras penas se avolumem mais algumas, ousa aventurar um palpite para revelar o saber aos mortais. Este fogo, nem ele acende. Verdade mesmo é que, com os novos trens que chegam, o aluguel do espaço para que eles fiquem guardados - nem Prometeu sabe até quando - vai custar R$ 80 mil por mês. Ruim, não? Pior. Os custos não estavam previstos, o que agrega à sem vergonhice e ao desperdício do caso a improbidade administrativa. Mais trabalho para o TCU.
Olha 2009 aí...
Presos traficantes e seus comparsas, dentre eles o irmão de Piti, traficante da pesada morto em Salvador, que tem na sua morte o início de uma guerra terrível pelos pontos de tráfico na cidade. O que fez de 2008 um ano de morte e violência sem precedentes na capital baiana. Policiais assasinados às dezenas, chacinas vis (como todas) e vãs (como aquelas, também vis, em que morrem os inocentes), traficantes e mais traficantes presos.
2009 é aqui...
E para somar-se à desgraça a falta de graça, eis que nos foge uma fiel representate destas últimas. A graça de Edith do Prato nos deixou. Homenageada por Caetano Veloso em Araçá Azul, Eith erareferência em Samba de Roda, além de ser um doce de pessoa. Entrevistá-la era sempre um encontro prazeroso com um destes sublimes seres onde o talento se conjuga com a humildade verdadeira para fundir-se numa imagem de pureza que traz lágrimas aos olhos.
Lá por cima, 2009 será mais animado... E viva dona Edith!
Subscrevo e dou fé.

Ó paí Ó...

Já disse que ando vendo TV. Ontém, no festival nacional da Rede Globo assisti Ó Paí Ó, "O filme que deu origem à série". Senti vergonha de dizer que vi pela primeira vez. Aliás. senti vergonha de ter visto pela primeira vez. Ou melhor, senti vergonha de ter visto. Na verdade, apenas senti vergonha. O filme é muito ruim. Alguns amigos baianistas, jornalistas e intelectuais, até mesmo professores universitários, com quem convivo, costumavam falar dele como uma grande obra. À exceção da atuação de Wagner Moura, nada se salva. O filme não tem um tempo bom. A narrativa é descontinuada. A caracterização das personagens, das coisas mais elogiadas pelos fãs, não é lá grandes coisas também. A crente, por exemplo, é quase uma esquizofrênica, dado o grau de mutação da conduta da personagem. Lázaro Ramos canta - e mal - uma trilha sonora mau escolhida, pretensiosa, com clips mal feitos e desencontrados, quebrando ainda mais o ritmo do filme. Outro ponto elogiado pelos fãs -pois não creio poder definir como críticos sérios os que elogiam o filme - é a baianidade presente nele, na narrativa, nos textos. Não concordo. Acho forçado. Usam-se muitas expressões, ao ponto de reforçar a caricatura já grotesca que o baiano possui no resto do Brasil. É tudo forçado no filme. As cenas de confusão chegam a ser patéticas. Há até idéias boas, como a de retratar a fragilidade daquela sociedade idílica de baianidade malandra com a morte das crianças no final, como a dizer "aqui se fala de realidade, não de ficção apenas". É uma boa idéia. Mas muito mal realizada. O final trágico é desencontrado com o resto do filme. Não tem o ritmo correto. Não perpassa a narrativa em momento algum, embora possa-se querer me corrigir citando as várias aparições de Stênio Garcia encomendando a punição dos pivetes como algo a ser feito. E, para coroar com o mais bizarro do filme, o pior, que está nesta mesma sequência. Sinceramente... No momento em que aquela mãe de Santo mostra o futuro à evangélica, como que querendo celebrar um suposto sincretismo que até pode haver na Bahia - mas não existe entre os evangélicos, pois estes são lineares no mundo inteiro em não sincretizar com crença estranha - a grosseria da interpretação me fez pensar que era um momento dos toscos do filme e não a preparação para o clímax trágico.
O filme é triste. Enão no sentido em que é triste um Tarkóvski. É triste como ... triste como o Zorra total.
Uma baianada, como diriam os paulistanos.
Beijo em vossos corações.

sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

Oito Meses Depois

A tempestade passou. Vão-se oito meses. À empolação do primeiro post - ou melhor da primeira postagem (melhor aportuguesar, em tempos de reforma ortográfica), s -, seguiu-se um esquecimento tão completo do blog em que ora escrevo, que cheguei a travar uma verdadeira batalha com a minha memória para descobrir qual a senha e até mesmo a conta de e-mail que estão a ele anexadas. São tantas senhas nesses tempos...
Verdade é que retorno pelo incontrolável desejo de escrever que me toma agora e deveria me tormar sempre, vez que sou jornalista de formação e profissão.
Tenho lido livros, assistido filmes e visto bastante TV. Não sei o que uma dieta dessas pode fazer com a mente humana. Afinal, os cardápios convencionais não costumam cntemplar sob a mesma rubrica tais ítens. TV e livros, em demasia, na rotina de um mesmo ser, soam como Sanduíches da MC Donalds e Salada completa (daquelas que têm nome e tudo, os quais não conheço nenhum - mas seria capaz de decantar, até em versos, todo o cardápio da MC Donalds, incluindo os sanduíches que não fazem mais parte do menu).
Enfim... Li coisas muito boas. Outras nem tanto. Li O Marquês de Sade e seus 120 dias em Sodoma. Só quem nunca leu isso pode falar que Sade hoje em dia não soa tão terrível. Sade era um monstro. Um gênio monstruoso, mas também um monstro genial. Gênio e monstro são para ele, na mesma dosagem, exatos tanto para substantivá-lo quanto para adjetivá-lo.
Quem quiser saber mais e tiver estômago para tanto leia 120 dias em Sodoma, mas não pare no início, nas partes onde o máximo que se faz é bebêr vômito, urina e comer cocô. Não... Vá até o final. Até o Inferno. Sim, o inferno. É este o nome da perversão de um dos seus libertinos que, dentre outros requintes de crueldade, inclui asistir a um carrasco fantasiado de demônio derreter a uma mulher, enquanto outras quatorze passam por sofrimentos proporcionais (pois não se pode usar aqui o termo semelhante, vez que nas suas elucubrações sádicas o Marquês era absolutamente singular e as torturas de cada uma das 15 vítimas do inferno são tão tenebrosas quanto é brilhante o Marquês.
Nelson Rodrigues é um santo e Woody Allen um perfeito ajustado diante da insânia de Sade. Mas é leitura obrigatória.
Assisti Woody Allen, Dorminhoco. Delícia dos anos 70. Um dos mais românticos filmes do mestre Nova Iorquino. Não romântico no sentido vulgar, mas no sentido real. Allen carrega nas cores do cinema mudo. Faz comédia pastelão, num período em que fazê-lo requeria uma coragem visceral. Rompe, como sempre. E é, como quase sempre, maravilhoso. Estou lendo as conversas com Woody Allen, de Eric Lax. Muito bom.
Estou lendo ainda O idiota, de Dostoiévski. Dispensa comentários. Mestre.
Até Maysa, a da Globo, estou assistindo. É uma minissérie dirigida pelo filho. Mesmo escrita pelo Manuel Carlos não devemos esperar a verdade davida de Maysa. Nada de presença de anita, ou semelhantes. É uma Maysa quase recatada. Seus pais, ao contrário dos boêmios que conta-se tenham sido, nada mais fazem, que os ligue à boemia, que participar de comportados saraus em casa. Bom netinho esse Monjardim (o diretor). Bom amigo (do Monjardim) este Manuel Carlos.
Enfim, caro leitor, aqui me tens de regresso.
Quero falar sobre a guerra no oriente médio. Sobre Israel, sobre Gaza. Mas faço isso amanhã... Ou daqui a oito meses, pois não demora tão pouco para tal desentendimento acabar.
Salut.